Oi queridos, tudo bem?
Há uma semana, um amigo que mora em Los Angeles, me ligou por facetime e, entre papos e outros assuntos, ele me pergunta:_Clara, quais seus planos para 2025?
- Nenhum. E os seus?
_Nada. Não planejei nada. Libertador, né?

Fui pro interior em dezembro e o ano-novo em casa foi nesse estilo: no plans.
Pedimos para minha mãe que fizesse seu maravilhoso gnocchi, comprei uns queijos e frutas para preparar uma tábua bonita de aperitivos, meu pai escolheu um vinho e montamos uma mesa no quintal de casa. Não tiveram convidados extras, foram só nós 7: pai, mãe, irmãs, sobrinho e cunhado. Uma noite bonita, de um calor de Araçatuba que se abrandou só pra que a gente curtisse um ritual do nosso jeito. Sem frescura, sem fazer sala e inventar assuntos, só dando risadas e dançando as clássicas de jorge ben e beth carvalho. Fiquei lembrando de mim mais nova, sofrendo porque achava que estava perdendo por não estar passando o réveillon na praia ou em algum lugar paradisíaco que me faria sentir mais importante.
Importante mesmo é estar ao lado de quem gosta da gente. E essa comemoração não planejada e até meio despreparada ficou na minha memória como uma das melhores viradas da nossa vida.
Los Angeles foi acometida por uma série de incêndios neste começo de ano, acabando com os planos de uma considerável parte da população. Meu amigo, citado no início dessa newsletter, trabalha na cidade como personal chef — preparando refeições na casa das pessoas —, e viu muitos de seus clientes precisarem abandonar suas casas por conta do fogo, o que, consequentemente, afetou seus serviços.
Quando você imagina que o ano vai começar com a sua cidade pegando fogo?
Como fazer planos quando o universo não está nem aí para o seu planejamento?
Neste início de janeiro, eu e minha irmã - que mora comigo - voltamos a São Paulo com força total para retomarmos a academia e trabalho, quando descobrimos que ela pegara dengue em Araçatuba. E dengue é uma coisinha complicada, séria, chata, sem fim. Foram 15 dias dela se arrastando para tentar se reerguer em meio a uma doença que te tira a esperança no olhar. Mas foi. Vencemos. E agora, dia 21 de janeiro, o ano dela finalmente vai começar.
O fato é que aquelas listinhas de metas ficaram nos meus 20 anos. O que não significa que eu não vislumbre coisas. Eu gosto de esperar um ano bom, com dignidade, saúde, programando uma coisinha ali, outra lá, trabalhando direitinho e boas. Não tá bom demais?
Entendendo que tudo muda de uma hora pra outra, como uma dengue no meio do caminho, por exemplo.
Talvez devêssemos focar neste ano como aquele em que vamos produzir mais e consumir menos. Menos conteúdo passivo. Tá rolando toda uma conversa de que as pessoas se cansaram do Instagram, e a sensação que eu tenho é que essa rede está se esvaindo a cada dia, até não sobrar mais nada ali dentro, só publis e vendas de cursos online aos montes. Pra quem?
Foi bom eu ter ficado um tempo no interior no fim do ano, voltei mais em paz com São Paulo. Eu estava muito reativa com a cidade, achando tudo impossível, custoso. Como enfrentar um novo ano com essa sensação? Mas aí fiquei pensando muito num texto da Lalai Person, dona de uma newsletter que eu adoro, em que ela fala sobre a capacidade de encontrar quietude em meio do caos: “Não se trata de fugir do mundo acelerado, mas de encontrar uma forma de habitar o caos sem se perder nele."
Eu quero isso. Me reconectar com meus dias e com o ambiente em que vivo. Quero muito caminhar com esse silêncio dentro de mim este ano, mesmo na loucura que é esta metrópole. E também não precisamos nos cobrar tanto porque, talvez, já estejamos fazendo tudo certo. Pensou nisso? Você não está vivendo errado, não está te faltando tantos cursos assim, livros a serem lidos, cidades a serem visitadas, planos e relacionamentos. Tá tudo bem fazer o que está dando pra fazer agora. As coisas vão se ajeitando. Aceita o caos.
Por falar em relacionamentos, um antigo caso me adicionou no fim do ano no Instagram. Eu sempre penso que a época de novembro e dezembro é quando as pessoas ficam mais carentes e saem abrindo a lista de antigos contatos para ver quem podem resgatar. Eu, na intenção de começar 2025 um pouco mais movimentado amorosamente, aceitei e começamos a conversar. Durante as férias, foi legal trocar mensagens com ele, ocupava os dias em que eu também me sentia encapsulada por essa carência de Natal. Ao voltar para São Paulo, saímos para jantar, mas percebi que ele era o mesmo de anos atrás: só mais um daqueles caras que querem muita atenção e têm pouca iniciativa para fazer uma relação acontecer.
Me lembrei do ótimo 1º episódio da 4ª temporada de Sex in the City, em que a Carrie, depois de jantar com as suas melhores amigas no dia do seu aniversário, termina o episódio entendendo que talvez nossas verdadeiras alma-gêmeas sejam nossas amigas ou irmãs, e os caras….ah o caras…os caras existem só pra serem legais e divertidos.
Desejo isso também para os relacionamentos dos que me leem aqui. Nossos encontros amorosos não têm que carregar a função de ser uma alma-gêmea ou um preenchedor de faltas... Às vezes, eles estão ali só para que possamos nos divertir um pouco, esvaziar a mente e voltar para casa depois. Libertador também, não? Tirar esse peso.
Mas aí, claro, vale pensar: até quando você não quer vínculos mais consistentes? Até quando queremos uma pessoa que some apenas sendo legal e divertida? No meu caso, achei que o cara cabia só em um jantar. Nada mais do que isso. Ele não era tão divertido assim, então nem esse papel ele poderia preencher.
E entre divagações sobre não-planejamentos, encontrar silêncio no caos e tornar os relacionamentos amorosos menos centrais, o que eu desejo a vocês, minhas queridas e queridos leitores, é um ano livre. Vivam na totalidade da liberdade de não se cobrarem, e - ainda que desejarem uma lista para seguir - que seja sincera em suas possibilidades e aberta a toda e qualquer mudança que possa acontecer.
Haverá imprevistos, e essa é a única coisa que podemos prever.
Obrigada por me acompanharem até aqui.
Estou muito feliz de iniciar mais um ano com vocês.
Nos próximos dias, sai episódio novo do meu podcast. Se não está seguindo o podcast, te convido a seguí-lo para ser sinalizado quando um novo episódio entrar ao ar.
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Deixei musiquinha ao final 🎶
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Para acompanhar seu gole
Os millennials que me leem me entenderão. Esbarrei com essa apresentação recente da Dido e me deu saudade dos dias adolescentes ouvindo seu CD no meu quarto em Araçatuba, enquanto fazia planos, muitos planos …
Fiquem bem.
Um beijo,
Volto logo.
Clara Vanali.
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Sobre os Dias é uma newsletter da jornalista e filmmaker Clara Vanali sobre os sentimentos e emoções dos dias. Aqui você vai ler sobre sensações, vinhos e goles compartilhados, sobre riscos e superações, sobre conversas e experiências que deixam memórias.
A newsletter que merece um café da manhã tranquilo pra ler voltou! É muito bom saber por onde e como você está, seja nas viagens, seja dentro da sua cabeça e coração. Feliz 2025 mais uma vez, querida e, obrigado pelo texto – não fique tanto tempo sem publicar, não!
p.s.: eu amo Dido e ainda acompanho a cantora. Corre neste link e ouça/assista um filminho curto com a trilha sonora de Look no Further 🤗
https://youtu.be/2Cf8SY_Kj20?si=68rYERWnyFrIcImy
Feliz Ano Novo, querida! Que delicia ver minha caixa com um Gole! Adoro esse momento, de ler teu texto com calma, como se conversasse com uma amiga! Adorei a ideia! Bora ter um ano livre e leve! Esse foi o primeiro ano que não fiz lista de metas, por total falta de tempo, agora vou desencanar de vez dela! ❤️