gole #97: minha primeira experiência num retiro de yoga
Nunca é tarde para aceitar convites inéditos.
Oi queridos, tudo bem?
Pega seu café e vem me acompanhar.
Eu poderia começar esse texto dizendo aquela frase bonita de que nunca tarde para aprender algo novo, mas não é isso que eu quero falar. Até porque eu acho que, muitas vezes, é tarde sim. A minha intenção hoje aqui é mostrar pra vocês que nunca é tarde para aceitar convites inéditos. Nunca mesmo.
Larissa, minha irmã mais velha, queria passar seu aniversário de forma diferente este ano.
_ A gente sempre comemora em restaurante, bebendo ou comendo, sem novidades. Mas este ano, topa ir pra um retiro de yoga comigo?
- Sim.
Veja bem, leitor. Eu não sou praticante de yoga. Talvez a minha primeira resposta neste caso fosse: não. Mas, puxa! Taí um negócio que eu nunca fiz na vida. Um retiro. Vamos sim, pode reservar. E eu já disse nessa newsletter uma vez que usar o aniversário como desculpa para descansar de São Paulo é sempre uma boa decisão.
Larissa é praticante de yoga há 6 meses e a professora do estúdio que ela frequenta divulgou que haveria um retiro chamado RENASCER, em São Roque, num hotel chamado Villa Tanah.
Eu, que faço mais o estilo pilates (embora as duas práticas - yoga e pilates - não tenham nada a ver), fui pelo conjunto da experiência em si. Passar um fim de semana na natureza, com 30 pessoas desconhecidas, cachoeira e comida vegetariana. O que me conquistou é que não era daqueles retiros super rígidos. A gente podia usar celular, beber vinho, praticar yoga mas também ficar só descansando se quisesse se isolar.
Saímos do escritório numa sexta-feira corrida, fizemos a mala para um fim de semana e fomos. Chegando no lugar, fiquei meio chocada. Cerejeiras floridas. Jardim impecavelmente bem cuidado. Barulho de cachoeira no café da manhã. Quarto com vista para primaveras. Água quentinha no chuveiro, vento e silêncio.
Ainda bem que eu vim.
Descobri que esse lugar, o Villa Tanah, era, no passado, da família Gasparetto. Quem for dos anos 90 vai se lembrar desse nome. Luiz Gasparetto era espírita e psicografava nesse espaço. A mãe dele, inclusive, Zíbia Gasparetto foi quem plantou as famosas cerejeiras do lugar. Ambos morreram em 2018. Um pouco antes de morrer, Luiz vendeu a propriedade para uma empresária de São Paulo que o transformou nesse hotel maravilhoso, que hoje recebe retiros de yoga, eventos empresariais, casamentos e hospedagens de pessoas que querem passar um fim de semana feliz (eles estão com agenda lotada até novembro, então programem-se pro ano que vem). Um funcionário do hotel nos disse que algumas pessoas vêem espíritos caminhando no lugar até hoje, espíritos esses que seriam da época Gasparetto.
Eu não vi espíritos na minha estadia, só patinhos mesmo.
O fato é que esse fim de semana no Villa Tanah me trouxe muitas reflexões.
Ao chegarmos, nossa professora de yoga fez uma roda de conversa para que cada um revelasse o motivo de ter ido procurar um retiro. E nessa de abrir o coração, percebi que, sim, todo mundo tem problemas. As pessoas começaram a chorar e a dizer que estavam passando ou que passaram recentemente por momentos difíceis e que, por isso, queriam se reencontrar ou encontrar novamente um sentido na vida. Todos ali eram praticantes de yoga há anos. O que me fez perceber também que yoga não salva ninguém. E talvez nada nos salve.
Um retiro não vai nos salvar. Pode trazer ensinamentos e momento de paz. Mas o que nos salva somos apenas nós mesmos, numa construção diária de entender nosso contexto, resistir e seguir em frente.
Mas nessa de trazer ensinamentos, aprendi muita coisa. Percebi que Rocket Yoga, que é um estilo mais agitado com várias posições que se alternam rapidamente, não era o que eu estava buscando (e aqui perdão se estou falhando na explicação, sou apenas uma leiga proseando com vocês sobre um fim de semana num retiro). Eu estava procurando paz mesmo. Algo que me tirasse daquela rotina de trabalho e academia (pensando que sempre vou na academia numa correria de conciliar cardio com exercícios de força, com fone de ouvido pulsando nos ouvidos sem parada).
E foi nessa de tentar me identificar com alguma prática de yoga que me trouxesse paz, que descobri o Yin Yoga. Já ouviram falar?
Yin é paz, amor e tudo mais o que você procuram.
Yin é uma vertente do yoga que preza por um ritmo mais lento e coloca o corpo em posições desafiadoras de alongamentos e relaxamento que podem se manter por até 10 minutos(!). Não é fácil, mas extremamente maravilhoso. Uma aula que te dá tempo, sabe?
Sim, você vai colocar a sua cabeça em cima de um bloquinho para que o pescoço descanse de ter que segurar o peso dela o dia inteiro. E você vai permanecer nessa posição por muito tempo, com concentração e resiliência.
Foi tão prazeroso parar tudo para focar nisso. Deixar meu cérebro descansar. E depois deitar em cima da almofada para que a coluna esticasse e os pulmões se abrissem para respirar.
Incorpore o Yin na sua vida, leitor. Vários estúdios de yoga dão aula de Yin. É uma aula de não ficar correndo. De jogar as pernas pro lado e esquecer. Você merece isso. Eu mereço. Viva o yoga (minha professora falava assim mesmo: o yoga, no masculino).
Em um dos dias de Yin, deitada com a coluna esticada e olhos fechados, me veio à mente: então isso é viver?
Viver sem a ajuda de celular, sem uma tela na minha cara 24 horas por dia.
Como é bom descansar os olhos.
E, então, você pode estar pensando que saímos de lá com vários amigos ou contatos para levar para vida. E, na verdade, não. De início, eu até achei que poderia, sim, ser uma oportunidade de agregar pessoas mas, ao longo do retiro, entendi que cada um lá queria estar consigo mesmo. Mesmo que em conjunto. Conversamos, trocamos frases aqui e ali, mas profundidade mesmo, ninguém conseguiu acessar. Talvez porque nos dias comuns a gente já tenha que interagir tanto que, quando nos vimos todos naquela imensidão verde, optamos por viver nossos próprios acontecimentos internos, tentando desembaralhar tudo o que estivesse desencontrado.
Pensei também que talvez seja tarde demais mesmo para fazermos novos amigos. Não é fácil iniciar vínculos na vida adulta. E que a busca, de fato, não tem que ser sempre essa. Conhecer e conhecer e conhecer pessoas. Talvez a gente só precise conhecer um lugar novo. Uma nova prática. Se permitir viver novos convites. Se conectar com quem já está do nosso lado. E mais do que conhecer pessoas, conhecer o que nos faz bem.
Um fim de semana assim. Isso me fez bem.
Obrigada por me acompanharem até aqui.
Tem música ao final desse gole.
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Para acompanhar seu gole
Não poderia ser uma música diferente de Rest (descansar).
Descanse, leitor, com esta maravilhosidade de Michael Kiwanuka.
Feche os olhos,
Deixe-os descansar,
Eu não não tenho pressa, pressa em nada.
Descanse sua cabeça em meu ombro,
Eu juro, vou levá-la, levá-la comigo.
Fiquem bem.
Um beijo,
Volto logo.
Clara Vanali.
Tenho tanta vontade de de fazer retiro de yoga, que ainda não sei pq não o fiz. Adorei as reflexões.
Entender o contexto, resistir e seguir em frente ❤️