gole #92: conselhos tardios para nossa juventude imatura
O que o seu 'eu' do futuro diria para o seu 'eu' de agora?
Oi queridos, tudo bem?
Quando jovens somos meio burros. A juventude vem regada de uma beleza e de um colágeno inversamente proporcionais à inteligência emocional.
Ouvindo esses dias um podcast que entrevista a Jane Fonda, a atriz me fez pensar quando disse a seguinte frase: as pessoas acham que difícil é ser velho, mas difícil mesmo é ser jovem.
Uma burrice minha quando jovem foi ter parado de nadar. Meu pai ficou arrasado.
Até uns 14 anos, eu era a única das minhas irmãs que levava natação à sério. Fazia aulas com professor e competia pelo interior de São Paulo com a minha especialidade: nado borboleta. Pode acreditar essa era eu. O ouro não veio, mas juntei umas humildes medalhas de prata na cabeceira da cama :p
Já perto dos 14 eu ouvi uma história de que todo nadador tinha as costas grandes e que, por eu nadar tanto, eu poderia ficar com as costas muito largas quando crescesse. Na minha cabecinha adolescente aquilo pesou e eu fiquei martelando que precisava parar de nadar porque senão ficaria com as costas grandes pra sempre.
Burrice que chama.
O fato é que eu larguei a touca e o maiô pra valer. Acordei num dia e decidi: de hoje em diante, eu não nado mais.
Os nadadores ficam com as costas largas mesmo, meu raciocínio não era de todo errado. Assim como, a depender do esporte que você pratica, você vai desenvolver mais ou menos uma parte do corpo ou músculo. O negócio é que, por mais que eu quisesse parar (por esse motivo e pelo motivo de estar cansada das competições), eu devia ter mantido uma touquinha e um maiô de stand by. Digo, ter continuado a nadar de vez em quando, sabe? Só pra não perder a sensação de espírito livre.
Quem sabe ali num sábado, ter pegado o óculos de natação e treinado umas braçadas sem compromisso. Ter pulado na piscina e nadado peito pra relaxar ou praticado um borboleta só pra não esquecer.
Hoje me parece tão custoso fazer isso. Eu não saberia por onde começar.
Porque natação tem todo um processo metódico. Colocar maiô, preparar a mochila da natação, prender o cabelo na touca, ajustar o óculos sem que aperte mas que também não entre água, encarar a piscina e pensar será que alguém fez xixi aqui dentro? e se entrar água no meu ouvido? eu vou respirar água pra dentro do nariz quando fizer a respiração do crawl? o cloro vai arder meu olho por 1 semana?
Eu perdi o timing. Hoje acabo indo pro mais prático que é colocar uma calça, uma camiseta e ir pra academia.
Mas ah, que saudades.
Da água transpassando e abraçando o corpo.
De não ouvir nada além do barulho das pernas se movimentando.
Saudade das cambalhotas nas viradas das séries.
Acho que minha labirintite não permitiria hoje.
E esse foi só um exemplo minúsculo de decisões equivocadas que a gente toma quando jovem. Qualquer dia eu abro a lista aqui, e a gente chora juntos.
Uma vez comentei com o meu pai se ele acha que é mais fácil ser velho do que ser jovem. Ele disse que o ideal mesmo seria ter a cabeça do velho no corpo do jovem.
A questão é que achamos que vamos ter muito tempo de retomar as coisas e, pode até ser que a gente tenha, mas já não seremos mais os mesmos quando quisermos viver de novo aquele tempo. E não é que hoje somos piores, não é isso. Só não somos mais.
Fiquei pensando se, hoje, eu pudesse deixar um conselho pra Clarinha de 13 anos, o que eu diria:
_não largue a natação.
E imaginei também se, no futuro, eu vou achar que estou cometendo alguma burrice neste exato momento, com meus 37 anos.
Então, Clarinha com 67 me diria:
_não desista de amar.
Obrigada por me acompanhem até aqui.
Todos os goles passados, antes do 87, estão disponíveis para leitura lá: claravanali.com.br
Os mais recentes estão aqui: claravanali.substack.com
Falei sobre parar de procurar o amor no gole 84.
E separei duas músicas no clima desse texto pra vocês, logo abaixo desse texto.
Fiquem bem.
Um beijo,
Volto logo.
Clara Vanali.
Para acompanhar seu gole
Todo mundo conhece a canção Vienna do Billy Joel, mas essa versão do Matt Schuster me pegou muito. Aproveitem. É só clicar abaixo pra ser direcionado pro Spotify e ouvir a faixa inteira.
Vá devagar, sua criança louca,
Você é tão ambicioso para um jovem,
Mas se você é tão esperto,
Me diga por que ainda tem tanto medo?
A próxima é Fábio Jr. Não me cancelem por isso. Fábio Jr acertou em muitas coisas, uma delas foi essa música.
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ah, que texto bonito. (e eu adoro essa canetada do fabio jr.)
“Quando somos jovens somos meio burros”. Caraca, eu adoro essa frase, porque é uma das minhas. Na verdade, eu falo ela sem a palavra “meio”. Somos burros quando jovens. Também fiz muita burrada. Parei de tocar piano, por exemplo. Tentei voltar com 40 anos, mas a cabeça não é a mesma e eu não tenho mais tempo suficiente para estudar. Voltei a dançar ballet quando tinha 35, mas ganhei dores nos joelhos, que não aguentavam segurar nas pontas o peso a mais. Mas comecei a jogar tênis. Estou adorando. Descobri que na quadra me sinto livre. A quadra pra mim é a piscina pra você. Nunca é tarde para um começo ou um recomeço. É custoso, você tem razão, mas vale muito a pena. Se joga.