gole #113: a magia de existir mais um ano
Enquanto meu tempo passa, eu escrevo para ficar.
Oi queridos,
Hoje, nesta terça-feira, dia 18 de março é meu aniversário.
Achei especial ter caído no mesmo dia da newsletter, que sempre é um lugar de conforto para mim quando penso: _o que eu sou quando não estou trabalhando?
Eu sou uma pessoa que escreve. Escreve enquanto enquanto envelhece, enquanto não entende ou tenta entender, escrevo quando canso de escrever sobre orçamentos, trabalho e coisas burocráticas que não sejam um álbum de sentimentos sobre quem fui e quem me tornei.
Aos 38 anos eu escrevo.
Mesmo quando a inteligência artificial articula e-mails e roteiros melhores do que os meus, mesmo sabendo que, em poucos meses, ela vai se desenvolver tanto que começará a fingir que sente e acabará demonstrando o sentimento melhor do que eu, mesmo que os algoritmos nos digam que o que importa são vídeos rápidos, ideias dinâmicas, que tudo precisa prender a atenção nos primeiros segundos, que eu devia fazer 200 cursos online para criar títulos mais vendáveis, aparecer mais, usar palavras-chave e produzir conteúdo criativo todos os dias… eu escrevo.
Escrevo lembrando de quando eu comecei a sonhar aos meus 15.
A gente costumava sonhar muito lá em casa. Agradeço aquela Clara pelos sonhos obstinados que me levaram para uma vida feliz hoje, em que sonho mais com uma boa noite de sono e exames de sangue em ordem. Planejo a curto prazo. Mas sigo escrevendo. Porque escrever me mantém sonhando, mesmo com os pés no chão.
Enquanto vamos completando idades no calendário, a gente sempre dá olhadinha lá atrás, comparando épocas e contextos. Não parecia que haveria guerras novamente, que o extremismo e ignorância política nos fariam sentir pequenos e que a violência urbana seria tão presente na porta de casa. Mas, pensando aqui…na época dos nossos pais as coisas também não eram fáceis. Lembro de uma história que meu pai me contou que, quando minha mãe estava grávida de mim, ele foi demitido. Aliás, meu pai começou a correr bem nessa época, quando perdeu o emprego e viu que teria uma terceira filha para criar. Ele colocava o tênis e ia correr pra pensar, pra saúde mental, pra seguir. Eles já cuidavam da saúde mental e faziam exercícios físicos nos anos 80, antes de todo todo mundo falar disso. E sonhavam.
As épocas são sempre difíceis, nunca haverá o tempo ideal. Mas gosto de pensar nos aniversários como uma celebração da nossa sobrevivência. Eu estar viva também faz minha mãe e pai celebrarem por terem investido tanta energia, tempo, dinheiro em mim. E amor. Comemorar é um forma de agradecer a eles por terem me dado essa oportunidade. De viver. Por isso os aniversários são mágicos.
Vencemos 38 anos.
Uns dias atrás fui pro interior e lá minha irmã organizou uma festa surpresa pra mim. Foi a primeira festa surpresa da minha vida. Só com a família. Nunca conseguiram fazer uma festa surpresa pra mim porque eu sempre preparei minhas próprias festas. Chamava muitas pessoas, organizava a decoração e agendava com antecedência. Dez anos atrás eu estava fazendo uma festa no salão do meu prédio com 50 pessoas. Foi maravilhosa aquela festa.
Mas esta, de 38, foi igualmente maravilhosa no meu coração. Porque cada fase da vida tem um significado. E esta festa, em casa, com meu sobrinho fazendo bagunça e soprando a velinha comigo, faz mais sentido pra mim agora. Eu nunca tinha vivenciado uma festa surpresa. Achei de uma boniteza abrir uma porta e ter pessoas lá dentro cantando pra mim.
Nesse dia, olhei pro meu sobrinho, que tem 6 anos e pensei: caramba, quanto tempo ele ainda tem pra viver! Num sentimento e vontade de dizer a ele:_aproveita que passa viu, igual a um foguete.
Fiquei pensando que meu pai, com 72 anos, deve ter olhado para minhas velinhas neste dia e pensado: caramba, quanto tempo ela ainda tem! aproveita que passa viu, igual a um foguete.
A gente sempre acha que o outro tem mais tempo que a gente. Talvez mais oportunidades, mais chances de acertar. Mas a verdade é que entregamos ao tempo tudo o que pudemos. Às vezes, até mais do que pudemos. Até entendermos que envelhecer, por mais duro que seja, é ficar em paz com as decisões que tomamos para chegar até aqui. Afinal, se estamos de frente para um bolo lindo desse, com as pessoas que dariam a vida delas por nós, a gente não deve ter errado muito.
Continuo celebrando meus aniversários escrevendo. E resistindo, como vocês, a um mundo que nos faz duvidar de que ainda podemos sonhar. Porque é assim que me conecto e entendo que não estou sozinha. É assim que vibro por estar em movimento, caminhando para viver momentos felizes com quem eu amo e para fazer a diferença nos universos que abrem os braços para que eu faça parte.
Obrigada por me acompanharem até aqui.
Se você apertar no ❤️ ao final deste e-mail, vai me dar um abraço virtual e indicar que gostou do texto. Ah, eu vou adorar ter seu comentário também.
Deixei música ao final 🎶
E se gostou desse texto, pode ser que goste do gole 88: feliz aniversário, envelheço em Mendoza.
E se estiver procurando companhia, dá uma passadinha lá.
Para acompanhar seu gole
Todo esse especial da Natalia Lafoucade é uma delícia de dar play e ficar ouvindo.
Pai, você vai gostar.
Fiquem bem.
Um beijo,
Volto logo.
Clara Vanali.
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Sobre os Dias é uma newsletter da jornalista e filmmaker Clara Vanali sobre os sentimentos e emoções dos dias. Aqui você vai ler sobre sensações, vinhos e goles compartilhados, sobre riscos e superações, sobre conversas e experiências que deixam memórias.
Bonito te amo. Que bom que gostou da festa. Fiz de coração.
parabéns! é sempre bom e válido celebrar a vida! =)