gole #108: 6 lições de vida que uma criança de 6 anos me ensinou
Um fim de semana sobre coragem e ser você mesmo.
Oi queridos,
Para que treinamentos ou livros de autoajuda para aprimorar a inteligência emocional quando você tem um sobrinho que te faz repensar um monte de coisas e perceber que só precisamos de um empurrão para viver melhor esta vida? Então, vem comigo.
1. Seja subversivo
Benício é assim: nem sempre faz o que os pais esperam.
Não coma bala à tarde. Ele vai lá e come.
Hoje é dia de lavar a cabeça. Se ele não quer, ninguém o convence.
Fiquei pensando em quantas vezes as pessoas esperam algo de nós que simplesmente não queremos dar. E lá vamos nós, dizendo sim para tudo, obedecendo todas as regras para sermos a simpatia, quando, na verdade, só queremos comer uma balinha no lanche da tarde. Qual é o problema?
Eu tenho muita dificuldade com isso mas, dizer não é permitido.
2. Vá com medo
Em um desses momentos das nossas andanças de fim de semana, trombamos com um teleférico. Pelo que eu me lembro, a última vez que andei em um foi em 2008, quando ainda tinha coragem para enfrentar alturas, sem pensar que o carrinho podia dar errado e ficar pendurado. Pois bem, corta para 2024, com Benício decidido a andar no teleférico.
_Vão vocês, eu vou ficar aqui em solo esperando vocês voltarem - disse eu, querendo escapar.
_Ah, não, tia clara!
Pois não é que a criança agarrou meu braço e garantiu que não ia soltar, até eu entrar no teleférico com a família inteira? Ele me arrastou até a fila e só me soltou quando eu sentei no carrinho voador. E eu pensando em qual momento havia me perdido para acabar ali dentro. Sério. Eu não planejava andar de teleférico novamente nesta vida porque, para mim, não fazia mais sentido vivenciar aquele medo. Mas foi ali mesmo, que eu descobri quando vale a pena encarar um medo: quando uma criança agarra seu braço e diz que só vai ficar feliz se você for junto. E eu fui. Não só fui, como fui e voltei. E fiquei feliz porque ele ficou feliz. Às vezes, a felicidade de outra pessoa faz a gente ser feliz também. Guardem isto: nem tudo vem de dentro da gente, há situações em que você precisa de alguém para te agarrar pelo braço e te fazer encarar.
3. Coma pouco
Benício é zero esganado. Sabe aquelas crianças que comem hambúrguer e batata frita como se não houvesse amanhã? Ele não. Come um pouquinho e logo diz que está satisfeito. Isso me lembrou da minha visita ao gastro este ano, quando, ao constatar uma gastrite, o médico me aconselhou: procure comer pouco, nunca deixe o estômago encher.
_Mas eu como pouco, doutor.
_Pois coma menos.
Toma.
Não é à toa que os moradores das Zonas Azuis (regiões do mundo em que as pessoas vivem mais) comem menos e praticam a regra dos 80%: parar de comer antes de se sentir completamente cheio. Isso ajuda a evitar excessos e promove uma digestão mais saudável.
Com Benício, aprendi mais uma lição: comer mais ovo. Nunca vi uma criança que vive de ovo como ele. Pode ter um bolo de chocolate na frente dele e um ovo cozido. Ele vai sempre preferir o ovo.
Nível de proteína diário atingido com sucesso e músculos fortes para correr por aí.
4. Assista algo só para te fazer rir
Eu sempre me pego na frente da TV escolhendo programas cabeçudos que vão me ensinar algo ou trazer alguma referência para o meu trabalho no audiovisual.
Pois pare.
Às vezes a gente só precisa de um filme de Natal. De uma comédia romântica boba pra ficar imaginando como seria passar o fim de ano naquelas casas enfeitadas da gringa, cobertas de neve. Com o Benício, assistimos 2 filminhos pra esvaziar o cérebro que eu recomendo: Um amor feito de neve e O Natal de costume. Calma, respira. Eles não vão ser base para o seu TCC. É só para passar o tempo mesmo. PASSAR O TEMPO. E está tudo bem. Você nem precisa postar no instagram depois com uma resenha. É só para deixar o cérebro tirar um feriado de tanta informação.
5. Se autoelogie
Passei uma tarde brincando de forca com o Benício. Toda vez que ele acertava a palavra, soltava: 'Eu sou um gênio!' Eu dava risada mas, no fundo, pensava como é importante a gente se valorizar nas pequenas resoluções de problemas. Quantas vezes nos pegamos comparando com outros e nos sentindo menores porque não estamos dando uma palestra no TED Talks ou liderando uma empresa com 100 funcionários? Você já fez e faz coisas geniais para enfrentar esse mundão, só está faltando olhar para si com um pouco mais de generosidade. Na atenção que dedica a sua família, no cuidado que tem com si próprio. Se autoelogie nos pequenos aprendizados, na curiosidade que você tem em absorver coisas novas, e nas batalhas vencidas (tenho certeza que já foram muitas).
6. Vá para casa
Ir para casa nunca é ruim. Sabe quando você está num rolê, já cansou, mas fica receoso sobre o que os outros vão pensar se você simplesmente desaparecer? Benício jamais teria esse problema. Se ele está num passeio, já andou tudo o que queria e, cansou, simplesmente diz: quero ir embora. E pronto. Às vezes, a criança já viveu e agora só quer ficar quieta embaixo do cobertor, comendo bala e assistindo a filmes de Natal. Pensando bem, muitas vezes eu só quero isso também. Torcendo aqui por mais dias em que eu e você também nos rebelemos e vamos para casa.
Obrigada, criança.
Por trazer a sinceridade e verdade que a gente só emana quando tem 6 anos de idade.
Isso me inspira a ter um olhar gentil comigo mesma e a fazer mais aquilo que realmente tenho vontade.
Obrigada a você por me acompanhar até aqui.
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Para acompanhar seu gole
Eu adoro quando essa música diz:
E se eu quiser dizer que o universo
É feito pra você, só pra você
E se eu quiser dizer que o universo inteiro
Mora em você, só pra você
As crianças tem o universo nas mãos, a gente também, só deixa de enxergar depois que cresce. Aproveitem:
Fiquem bem.
Um beijo,
Volto logo.
Clara Vanali.
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Sobre os Dias é uma newsletter da jornalista e filmmaker Clara Vanali sobre os sentimentos e emoções dos dias. Aqui você vai ler sobre sensações, vinhos e goles compartilhados, sobre riscos e superações, sobre conversas e experiências que deixam memórias.
Sobrinhos nos ensinam TANTOOO! Li e vi o meu de 4 anos no texto. Sem falar o tanto que é bonito ver eles simplificarem a vida, aprendendo a racionalizar as questões que aparecem ... As vezes a gente só precisa disso para se inspirar! 🫶🏻
a gente sempre tem muito a aprender com as crianças.