Oi queridos,
Esses dias apareceu para mim, nas redes sociais, o vídeo de um moço que eu saí há quase uma década. Na época, quando saímos, foi inesquecível. A gente já se gostava há anos e nunca dava certo de estarmos livres e descomprometidos para combinarmos um drink. Mas, naquele dia, deu. Saímos, conversamos a noite toda, dividimos risadas e falamos dos desencontros da vida que só nos permitiram ficar juntos após 7 anos desde a primeira vez que fomos apresentados. Ficar juntos por uma noite, quero dizer. A gente jantou, se beijou e nunca mais se viu.
Não por ele. Não por mim. Ele me ligou para sairmos de novo mas, eu fiquei muito doente. Tive um episódio de depressão pesada que me fez precisar ir para minha cidade natal me recolher até me curar. Depressão é uma senhora rápida, você vai cozinhando insônias, medos, tristezas, até que ela te derruba e você precisa simplesmente sumir, encontrar o médico certo e se cercar do amor da sua família.
Deu tudo certo comigo. Em 3 meses eu me restabeleci (sempre amarei a psiquiatria), voltei para São Paulo grata por estar bem, e disposta a fazer aquele relacionamento dar certo. Liguei para ele: vamos retomar aquela conversa?
Mas o desencontro também é ligeiro, é só dar um intervalo que ele encontra uma forma de separar. Nesses meses em que estive fora, o moço conheceu uma mulher, que depois se tornou sua esposa. O relacionamento deu tão certo que construíram uma empresa juntos e um futuro maravilhoso. Mas calma, leitor, essa não é uma história triste. Eu também tive um futuro muito feliz. O nosso futuro só não era juntos.
O fato é que eu guardei aquele único encontro que tivemos na caixinha de momentos especiais da minha vida e sempre fiquei me perguntando como seria encontrá-lo novamente, na rua, ou onde quer que fosse. Seria estranho? A gente sentiria alguma coisa? Como seria a nossa conversa?
Mas então, ao vê-lo naquele vídeo que mencionei no início do texto, entendi que, todas as vezes em que a gente pensa na pessoa novamente, estamos, na verdade, procurando aquele momento, aquela noite, a troca daquele dia. E isso não existe mais. Ele não é mais aquela noite. Eu não sou mais também. É como quando a gente viaja para uma cidade, vive uma experiência transcendental, mas depois de alguns anos, ao programar uma nova visita, chega lá e percebe que aquela sensação sumiu. Porque o momento não está mais lá, e o que a gente quer resgatar é o momento, não a cidade.
Em 2011 viajei para Nova York e morei lá por um mês. Aproveitei as férias da empresa em que eu trabalhava, juntei todo meu dinheiro e fui sozinha. Me hospedei numa residência estudantil e, até hoje, considero esse como um dos meses mais felizes da minha vida. Eu caminhava com meu guia da Folha embaixo do braço (saudosos guias da folha) e me deliciava em parques, museus e passeios com os novos amigos que fiz na cidade. O fato é que, em 2013, eu quis levar meus pais pra Nova York, numa tentativa de resgatar tudo o que eu tinha vivido anos anteriores. Eu ficava: mãe, foi aqui que provei o melhor macarrão da minha vida / pai, esse é o parque em que eu passava a tarde com o pessoal do curso de inglês e, entre tentativas de resgates de dias, percebi que falharia na missão de tentar recuperar aqueles momentos de 2011 porque, definitivamente, eles não estavam mais ali.
Eu gosto muito de pensar sobre isso em relacionamentos também porque significa aceitar os desencontros. Quantas histórias poderiam ter sido e não foram? (me lembrei agora do filme Vidas Passadas em que o protagonista diz para a protagonista: e se essa já for uma vida passada, o que somos na próxima?).
Será que na próxima vida a gente consegue ficar com os amores da nossa vida?
Talvez as histórias guardadas com mais carinho sejam as curtas. Porque não deu tempo da gente se desentender, se desconectar. Mas aí você vai me dizer que as histórias longas têm seu encantamento pela intimidade e cumplicidade que se constroem e eu concordo. Só não aconteceu para mim.
Pelas curtas ou longas, faça as pazes leitor. Os dias são singulares. Ninguém é mais o mesmo e nem sempre temos o controle de tudo. A gente cresce, aprende, tropeça, fica doente, sara, conhece e desconhece pessoas, e tem a oportunidade, todos os dias, de construir lembranças únicas. Aproveite as primeiras vezes. Se o caminho permitir, viva uma segunda vez. Só não tente buscar um tempo que já não é mais.
Obrigada por me acompanharem até aqui.
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Para acompanhar seu gole
Essa semana conheci a artista mexicana Natalia Lafourcade e me apaixonei. É uma canção melhor que a outra, aproveitem:
Fiquem bem.
Um beijo,
Volto logo.
Clara Vanali.
Sobre os Dias é uma newsletter da jornalista e filmmaker Clara Vanali sobre os sentimentos e emoções dos dias. Aqui você vai ler sobre sensações, vinhos e goles compartilhados, sobre riscos e superações, sobre conversas e experiências que deixam memórias.
eu nao queria, mas precisava ouvir isso. impressionante como o que sempre preciso ouvir vem da sua newsletter. obrigada!
é aquela velha máxima de que não dá para atravessar um mesmo rio duas vezes...